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          Marcos 16:15
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Marcos 16:15
Artista no fundo oceânico


Postado em 15/Novembro/2019

Em 1995 uma estrutura geométrica com padrão circular, apresentando cumes e vales radialmente alinhados, e com cerca de dois metros de diâmetro, foi encontrada no fundo do mar - no Japão, próximo ao sul da Ilha Amami Oshima. Qual seria a origem dessa estrutura? Eram formações que apareciam e em pouco tempo desapareciam, sem que houvesse a chance de descobrirem o responsável pela construção e compreender sua função. Por algum tempo ela foi chamada pelos mergulhadores de "círculo misterioso”. Teria sido produzida por organismos vivos ou seriam consequência de fenômenos naturais?
Em 2011 o construtor dessa arte foi encontrado - o macho de uma espécie de baiacu do gênero Torquigener sp. com cerca de 12 cm de diâmetro.
Um estudo chamado "Role of Huge Geometric Circular Structures in the Reproduction of a Marine Pufferfish" foi publicado no periódico da Scientific Reports no ano de 2013, por Kawase, Okata e Ito, buscando compreender tanto a função dessa formação quanto a maneira como ela é construída.
Foram realizadas observações regulares (uma a três vezes na semana), de abril a setembro de 2011 e 2012; e posicionadas no fundo do mar câmeras fotográficas e de vídeo para a análise dos padrões de comportamento em frente as estruturas circulares.
Descobriu-se que essas formações são ninhos cercados por picos e vales radialmente alinhados. Observaram-se dez processos reprodutivos, desde a preparação para a desova até os cuidados com os ovos (tudo sendo realizado pelos machos).
Mas como o macho constrói essa estrutura geométrica?
Inicialmente ele cria uma forma circular básica e cava vales no fundo arenoso; depois, nada em vários ângulos (direção radial), de fora para dentro do círculo - formando picos e vales, usando suas barbatanas (nadadeiras) peitorais, anais e caudais.
Após isso, move-se para dentro produzindo concavidades e convexidades nos vales, sem usar as nadadeiras.
Ao centro dessa estrutura formada por picos e vales radialmente alinhados, há areia plana. No estágio intermediário de construção o macho adquire um comportamento de refinamento dela, a partir de movimentos repetitivos, possibilitando sua definição. Depois, ele nada em direção circular, agitando a areia da zona central (ninho), achatando a superfície e aumentando sua largura. Passa pela zona interna, movendo-se para fora e agitando partículas finas que fluem para a área central.
Na fase final, a estrutura circular é concluída com o uso da nadadeira anal.
Forma-se um padrão irregular na parte central - ninho, nela a areia escolhida é composta por partículas finas. Depois, o macho decora os picos e os vales ao redor com conchas e corais fragmentados.
É nessa fase que a fêmea visita o ninho; ela aparece algumas vezes, até que decide por liberar ou não os ovos na área central.
Ao observar tais condições, percebeu-se que as fêmeas avaliam a estrutura do ninho ao visitá-lo, mas os fatores específicos (altura dos picos, quantidade e qualidade das partículas, etc.), que irão afetar sua decisão no momento de colocar os ovos ou abandonar o espaço, ainda são desconhecidos.
Depois que os ovos são depositados, o macho fertiliza-os e permanece por seis dias cuidando deles. Nessa ocasião, a preocupação dele volta-se apenas para os ovos, não mais para a manutenção do ninho e de toda a estrutura ao redor.
Com o passar dos dias, tudo o que ele construiu (com muito gasto de energia e dedicação) vai desmoronando, suavizando e ficando mais plano com a ação das correntes de água. A área do ninho, que é construída com o uso seletivo de areia fina, começa a ser naturalmente substituída por areia grossa.
Percebe-se, assim, que a estrutura tem o objetivo de atrair a fêmea para depositar os ovos e originar novas gerações da espécie. Ela é completada e mantida intacta até a visita e fertilização dos ovos por ela, depois, a manutenção é deixada de lado. Após a eclosão dos ovos os machos vão embora, e, algum tempo depois, começam a construção de um novo ninho, em uma nova localidade.
Essa postura - atrair a fêmea com intuito reprodutivo, por meio da construção dos ninhos - é classificada como seleção sexual. Esse conceito foi introduzido por Darwin no livro A Origem das Espécies (1859), podendo ser definido como um tipo de seleção natural, atuando diretamente na variação entre os organismos do mesmo sexo, pela sua habilidade de conquistar parceiros, objetivando a transferência dos genes para gerações seguintes, ou seja, fins reprodutivos, e não por questões diretas de sobrevivência.
A seleção sexual pode ser classificada de duas formas: intrassexual - quando os machos monopolizam o acesso às fêmeas, conquistam esse direito pela competição direta com outro macho, tornando-se dominantes sobre um grupo, acasalando com o maior número possível delas. Esse tipo de seleção acaba selecionando os machos com características importantes para o embate (exemplo: chifres).
Na segunda classificação – interssexual -, a estratégia do macho é tornar-se mais atraente para a fêmea; isso pode ocorrer através do desenvolvimento de colorações distintas em penas/pelos, por exemplo. Nesse caso, a fêmea escolhe se quer ou não copular com ele. Essa seria a melhor classificação para a espécie de baiacu aqui descrita – o macho constrói ninhos elaborados para atrair a fêmea, ela visita o local e decide (por critérios ainda não conhecidos) se escolherá ou não esse macho, depositando assim os ovos.
O custo para a construção de toda a estrutura geométrica é muito alto, o macho dispende de sete a nove dias para concluir o processo. Nesse caso, parece obvio que ele deveria aproveitá-la para construir uma nova na mesma localidade, gastando menos tempo e energia.
Se o foco de toda essa construção é o ninho, por que o baiacu gasta tanto tempo e energia para produzir a estrutura radial composta por picos e vales? Na natureza, se algo ainda parece sem função é porque ainda há descobertas para serem realizadas, sempre há uma razão de ser para elas. Essa estrutura que rodeia a área central é importante para a coleta e depósito das partículas finas de areia no ninho, os picos impedem a dispersão das partículas finas agitadas. Um único ciclo de construção consome grande proporção de partículas de areia fina disponível para o ninho; assim, os vales podem não conter a quantidade de areia fina necessária para a reestruturação de vários ciclos reprodutivos. Com isso, os machos constroem novos ninhos, onde haja a disponibilidade suficiente de partículas de areia fina.
Pensando um pouco no processo de construção do ninho, essa estrutura geométrica foi erguida com elevado gasto de energia, tendo como objetivo atrair a fêmea para a reprodução. Mas de que modo esse comportamento teria sido selecionado pela seleção sexual? Embora a fêmea possua critérios para a escolha do ninho (ainda desconhecidos), quando ela toma a decisão de depositar ou não seus ovos nele, ela possibilita que o macho escolhido transmita seus genes para as gerações futuras; assim, essa característica vai sendo selecionada e levada adiante, ou seja, características específicas vão sendo fixadas no gene dos filhos/netos/bisnetos.
Mas e a origem desse comportamento? Ele não é constituído por uma única ação, mas um conjunto delas, resultando nessa estrutura geométrica incrível! O baiacu só é capaz de realizar tal ação porque ela está registrada em sua carga genética. Como seria antes de esse comportamento ter se constituído? Qual era o comportamento utilizado pelos machos para a reprodução? Será que os longos milhões de anos sugeridos pelo processo evolutivo seriam capazes de desenvolver tal comportamento? Seria possível constituí-lo em etapas? Tudo parece ficar confuso e estranho quando tentamos compreender esse processo pelas lentes do evolucionismo.

Moema Patriota

Referências:
Peixes baiacu fazem arte com areia no Japão: https://hypescience.com/peixes-baiacu-no-japao-fazem-arte-com-areia/ [1]
Role of Huge Geometric Circular Structures in the Reproduction of a Marine Pufferfish: https://www.nature.com/articles/srep02106 [2]
Tese de Doutorado: "Seleção Sexual e modelagem visual em Ameivula ocellifera." LISBOA, Caroline M.C.A.
Cristas, Chifres e Seleção Sexual: http://cienciahoje.org.br/coluna/cristas-chifres-e-selecao-sexual/
A seleção sexual: https://pt.slideshare.net/mobile/popecologia/seleo-sexual
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